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Exercícios de Crítica Literária Contemporânea

1.

O comentário biográfico incide reiteradamente sobre dois processos em Henry James.

Um, é seu tartamudear: não é de forma alguma uma gagueira, mas uma enunciação hesitante e tateante que o persegue desde muito cedo. Não há gravações de James, mas podemos imaginar a sequência de Well… Uhm… I mean… So… etc

Outro é o uso que faz de um amanuense: por volta dos 50 anos, James começa a manifestar os sintomas do que hoje é a conhecida Síndrome do Túnel do Carpo e, como uma resolução para seu sofrimento cotidiano, contrata um copista. É possível imaginá-lo, a partir desse momento, alterando sua rotina de trabalho, e incorporando ao seu processo composicional um deambular pela sala, um ir e vir que ocorre em paralelo à enunciação enquanto o copista, silencioso, oculto, atento, copia.

Estabeleça um paralelo entre os incidentes citados e as peculiaridades do discurso indireto livre na obra tardia de James, com particular atenção a The Golden Bowl.

2.

Em 1942, Bowles se mudou para um apartamento na 14th St com a 7th Ave. O ocupante anterior tinha sido Duchamp e, assim, eles se conheceram.

Improvise.

3. 

É conhecida a afirmação de Piglia: A critica é uma das formas modernas da autobiografia. Um sujeito escreve sua vida quando crê estar escrevendo suas leituras.

Disserte sobre o tema, considerando as manifestações em A, B, e C.

I Comentário até agora

  1. denise bottmann

    “uma enunciação hesitante e tateante”: james? essa me surpreendeu 😉
    vejo-a segura, precisa, incessante, aos borbotões, meio sádica, pois vai afundando, escarafunchando, aprofundando naquele(s) ponto(s) que quer destacar no personagem: a ingenuidade tola e deliberada de isabel archer, por exemplo, ou o oportunismo semiconsciente travestido de heroísmo de fleda em espólios de poynton ou a perversidadezinha que maisie desenvolve sentindo um imenso prazer naquilo – william james (que era irmão dele) o aconselhou algumas vezes a diminuir sua sanha analítica. naturalmente a enunciação é cumulativa, claro, mas a um grau quase obsessivo. e isso é james, justamente, o mestre do desnudamento das nossas próprias tramoias psicológicas, das quais somos autores, vítimas e perpetradores.
    ah, não acho nada tartamudeante, não: acho bem cirúrgica e cruel.

    • O negócio da hesitação é na *fala* da James, Deni.

      Na verdade eu não sei de onde tirei isso: não sei se é do Edel ou do Tóibin essa alusão (que só podem tirar de alguma carta, de algum depoimento alheio) a uma fala hesitante, tentativa. Eu posso inclusive ter confundido as bolas, sendo outra pessoa do círculo de James quem tem esse traço e eu fiz curto-circuito nas características (nesse sentido, esses textos aqui são irresponsáveis).

      Do mesmo jeito, tb não sei de onde tirei algo (mas isso aí tenho mais como certo) que está mais colado ao seu comentário: a presença do amanuense e o descolamento de James do processo físico da escrita gerou uma articulação marcada, ao mesmo tempo, por sinuosidade e incisividade (o que vc diz como “cirúrgica e cruel”). O traço já estava lá antes: é uma das assinaturas de James. Mas o copista agrava a coisa de um jeito todo peculiar.

      “isso é james, justamente, o mestre do desnudamento das nossas próprias tramoias psicológicas, das quais somos autores, vítimas e perpetradores.”: é isso aí 🙂

  2. Jamille

    Profis., fiquei interessada em saber em que texto Piglia diz isso. Pode me passar a referência? Bjs

    • É na primeira entrevista do Crítica y Ficcion, Jamis, chama La lectura de la ficción. Isso foi traduzido em O laboratório do Escritor – que, se ainda não sequestraram, acho que tem na biblioteca da UFBA. Me diga se achou.

  3. Qual é o prazo para entregar os exercicios? Em um ensaio que tava escrevendo estes dias sobre o mexicano Sergio Pitol (que recomendo) tava pensando algo similar: “(longas caminhadas como as de Sebald ou Walser, que fazem pensar na necessidade de estudar as relações entre os hábitos cotidianos do escritor e suas formas narrativas)”

  4. Jamille

    Profis., acho que achei o livro de Piglia, só falta ir buscar na biblioteca. Valeu pela referência.

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