de manhã, fazendo o café ou, como hoje, indo pro trabalho, penso em César Aira. Imagino se ele já está escrevendo àquela hora, se ele está em casa ou comendo uma medialuna em um café onde ele costuma ir em Flores. Imagino se o que ele está escrevendo naquele momento será lido por mim daqui a alguns anos e se vou gostar do livro. Será, por exemplo, que ele já se deu conta do enorme potencial narrativo das máscaras balinesas, e de toda a tradição literária, dramática e musical balinesa, com seus mil artifícios e soluções de circularidade? O poder da coincidência, a coincidência como Força Motriz do Universo, o Acaso como algo respeitável o suficiente para conduzir nossas vidas, a Sorte ou o Azar como fenômenos idênticos. Um homem se distrai dirigindo, outro se distrai atravessando a rua; uma mulher pensa em um homem distante, um homem próximo a observa; um menino entra num prédio abandonado com dois amigos, é uma gráfica, está cheio de máquinas velhas e tem muita poeira; uma coisa furtiva que você só vê pelo canto do olho se move pra trás de uma máquina. O café chega quente, está bom: é bom tomar café na padaria quieta de manhã.
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