Quando viajou para a India, volta e meia confundiam ele com Nana Patekar. No, no, no: Nana Patekar no pay, no pay, no pay please!, discutiu enfaticamente um guia turístico. O cumprimentavam, chamavam seu nome, Nana Patekar! Babu! A comida que pediram veio Specially delicious for Babu, e com mil sorrisos.
Quando enfim viu fotos de Nana Patekar ficou triste, pois achou que o chamavam de feio e canastrão. Mas isso foi retrospectivamente: na hora em que o reconheciam e premiavam como se ele fosse outro, era alegria e incompreensão, e a leveza de estar em um lugar estranho e, ainda assim, ser tratado como se fosse conhecido.
Essa alegria particular e esse mistério ele às vezes reencontra lendo. Fato é que, quanto mais lê, menos isso ocorre, inclusive porque ele se tornou um profissional da literatura – o que quer dizer que ele lê cada vez mais de uma certa maneira e cada vez menos de outra, que há um desgaste e um certo cansaço, às vezes ceticismo e cinismo também.
Mas ainda, apesar de mil pesares, mesmo que seja um pouquinho e logo evapore em decepção, o frisson único de ser outro por um tempo ainda o mobiliza e o motiva a cada leitura, pouco importando seu propósito. É como se ele ainda estivesse andando pelas ruas da Velha Delhi com sua namorada, com vinte e poucos, vivendo em sua própria pele a vida de um outro, experimentando os benefícios casuais de ser alheio a si mesmo – como se estivesse ainda vivendo aquele momento de ligeiro estremecimento e esquecimento de si que permitiu inclusive que ele se aproximasse daquela mulher que, a seu lado, na India, ri – como ele, sem entender exatamente a graça, mas curtindo a graça mesmo assim.
“porque ele se tornou um profissional da literatura – o que quer dizer que ele lê cada vez mais de uma certa maneira e cada vez menos de outra, que há um desgaste e um certo cansaço, às vezes ceticismo e cinismo também.”
gostei disso!
beijos!
Críticos? Todo mundo se importa com os críticos. Até os críticos se importam com os críticos. 🙂