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Javier Marías, Balzac

Hoje ia fazer uma prova sobre a trilogia do Javier Marías – que, como vocês sabem, não li. Não tinha medo: planejava improvisar, usando o que já li do Marías mais o que já li sobre, achei que com isso ia dar conta.

Cheguei e, como de costume, havia toda aquela liturgia na biblioteca, a arrumação dos dias de exame, o silêncio. Quando estava já pra começar a escrever, entrou no salão um homem de uniforme, um guarda, e trocou algumas palavras com o supervisor que, imediatamente, apontou para mim, assentindo com a cabeça. O guarda se aproximou, me abordou, confirmou meu nome, e me disse que eu precisaria retirar meu carro, que estava obstruindo o trânsito.

Obviamente, me atrapalhei, me esbafori e me apressei, saí correndo para tirar o carro logo e voltar o quanto antes, a tempo de ter tempo para fazer o exame. Mas ao retornar a biblioteca parecia ter se desdobrado em várias outras, uma infinidade de salas e corredores e escadarias semelhantes que nunca me levavam à minha sala, ao salão de onde eu tinha saído, onde me esperava meu supervisor, meus colegas e, em minha mesa, minha folha de exames com meu nome, minhas canetas, tudo de que eu precisava para escrever minha dissertação sobre a trilogia de Marías. Perguntei a uma pessoa que lia no corredor sobre o teste e ele fez um gesto em direção a uma sala e me disse Aqui é sobre Balzac. Caminhei mais, a luz baça dos vitrais no corredor, apertei o passo para alcançar uma moça que caminhava à minha frente e perguntei a ela sobre a prova e ela disse Eu também tô indo pra lá, tô atrasada, é no salão, sobre Balzac, não é?

    • Planejei reescrever o Caso do Curió-macaco tb, mas ia dar muito trabalho e o seu já estava legal à beça. Esse saiu num ímpeto rápido, foi bom escrever. A combinação do clima de “Perdido em All Souls” com Tarantino que seu sonho tinha se perdeu, todavia. Não se pode ter tudo.

      🙂

  1. Que engraçado. Semana passada eu li O caçador de autógrafos. O “protagonista” envia cartas a uma atriz famosa e o procedimento que ele usa p/ compor as cartas é mesmo usado por você, Amp. ( tanta coisa concidindo, esse mundo é lindo de doer o peito e, sobretudo, suspender a respiração)

    Alex> Amp
    Kitty> Pixel-man

    Um exemplo p/ ilustrar a coisa toda:

    Querida Kitty,
    Viajando atrás de um jovem, num ônibus, ela se descobre olhando fixo pra o pescoço dele.O impulso de tocá-lo é quase incontrolável! E então ele coça o pescoço, como se soubesse.

    Smith, Zadie. O caçador de autógrafos.Tradução Beth Vieira. São paulo: Companhia das letras,2006 . Pág 144

  2. Ótimo blog, escrever é libertar a alma, encontrar-se com um mundo surpreendente, querer sempre mais; é estar sempre envolto pela matéria viva da arte. Meus parabéns! Seu blog é de excelente qualidade. Espero sua visita no meu: comosefossecronica.webnode.com.br, eu escrevo crônicas, versos e artigos de opinião, conto com sua visita… Abraços…

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