O desafio de elaborar uma biografia de Chekhov quando há esforços realmente bonitos e íntegros (Troyat, sem comentários), sistemáticos à exaustão (a meticulosa mas antipática versão de Rayfield) e na fronteira da bobagem, da babação (a pseudo-peregrinação de Malcolm: afinal, ela quer conhecer ou matar O Autor?). Mas, claro, sempre há a possibilidade de outra, outra volta do parafuso, outro mergulho nos imponderáveis, pois nunca é o “que” mas sempre o “como” etc.
Conferir validade dramática a episódios subalternos, especificar as reações do Grande Autor diante de um formigueiro, ou dos “problemas sociais de sua época”. Recuperar os últimos dias de Maria Chekhova e de Olga Knipper, especular a respeito de Chekhov atravessando os Dez Dias Que Abalaram O Mundo e a Cavalaria Vermelha, as duas guerras, Stálin.
O Autor vai ao campo tentar melhorar sua peça, precisa de sossego, Moscou nada permite. Assim que chega, é acossado por mil demandas de vizinhos, moradores da vila, empregados locais; entre uma auscultação e outra, entre uma e outra batida dos dedos no tórax de um menino com tosse, Chekhov lembra das marcações de cena.
Na foto, retornando de Sakhalina (tem 31 anos: o que o autor da biografia estava fazendo aos trinta e um anos?):