1. Meu Pai o Folhetim: A alegria de ler o livro de Mark Frost, The List of Seven — folhetim desabusado produzido por um autor que sabe exatamente o que quer fazer, e que me devolveu a mil alegrias infantis, me fez gargalhar e esquecer de mim mesmo por horas — foi substituída pela tarefa de ler um livro que me impressionou justamente porque seu autor, aparentemente tão experiente quanto Frost, é incapaz de dizer o que quer fazer. Ou, pelo menos, foi incapaz de dizer isso a mim.
1.1. Devo, com isso, julgar que o livro é mau ou julgar que má é minha flexibilidade hermenêutica? Tomem aí, seus sacanas que tem a desfaçatez de insinuar que vida de crítico é fácil.
2. É O TCHAN é uma merda: Estou cheio de amigos decentes e bem-intencionados que tem um pedantismo estético da porra: estão dispostos a aplaudir uma merda popularesca qualquer se lhes convém como diacrítico inclusivo (uma bandeira que diz “Vejam, eu não sou só high brow, eu também sou povão!”) mas torcem o nariz para coisas fenomenais que não trariam rendimento imediato em popularidade. Muito bem: enquanto escrevo estou ouvindo De Leeuw.
2.1. As folhas da música de Satie para piano ficaram anos e anos esperando De Leeuw para enfim encontrarem uma morada. Depois dessa interpretação, desgraçados dos próximos que se aventurarem em uma Gnossienne – estarão na mesma situação que o pobre Keith Jarrett com suas Variações Goldberg depois do Glenn Gould: tadinho do Keith.
2.2.1. Os que lêem o que eu leio hão de localizar, no item acima, bovarismo meu com O Náufrago, de Bernhard: va bene, é vero.
3. Homenagem a Ferreira Gullar: Sempre quis escrever coisas assim, peremptórias e sem muita preocupação com a justificativa ou com o imperativo de oferecer a quem lê alguma medida de razoabilidade. Na verdade já fiz isso – em cartas, em diários, mas nunca em público. Há um prazer na coisa, uma sensação de traquinagem infantil, uma solicitação proibitiva com a perspectiva de ser flagrado. Mas há a feiúra de fazer-se voluntariamente comparável a Ferreira Gullar, e isso é imperdoável. Ou seria imperdoável, se eu não estivesse feliz.
4. Razão para a felicidade: Minha mulher faz aniversário hoje: I clap my hands and say YEAH.
curioso você acusar as pessoas de pedantismo estético por não gostar do que você gosta e ainda determinar que se valoriza, ou o que quer que seja, determinada merda popularesca apenas para ter rendimento imediato em popularidade ou se beneficiar com o diacrítico inclusivo.
E deus abençoe a curiosidade – a sua, a minha, a dos esteticistas pedantes, a do Serra e a da Dilma também.